quarta-feira, 29 de setembro de 2010

2ª Sessão de QT e mais espera

Com imunidade em alta, lá veio a segunda sessão. Fui bem mais tranqüila que na primeira, o nervosismo foi bem menor. Mas ainda tinha o medo de alguma reação, pois dizem que não obrigatoriamente, as reações às quimioterapias são iguais e já que na primeira sessão eu não senti reação nenhuma, o medo era de dar alguma coisinha.
Mas não tem jeito, tinha que fazer né, então lá fui eu. Apesar do medinho, não tive muita surpresa. Foi bem tranqüilo, ainda mais com o cateter, é só uma furadinha na parte do silicone do “porth a cath” e pronto. E o melhor: as mãos ficam livres. Sabendo disso, levei um livro comprado especialmente para a ocasião, A ULTIMA MUSICA de Nicholas Sparks. Foram quatro horinhas de soros e fui liberada, nada de ficar internada dessa vez. Em casa, só uns leves enjôos e os mesmos probleminhas da 1ª sessão, prisão de ventre que dá umas cólicas horríveis e a infecção no dente.
 Se na primeira sessão minha imunidade já tinha abaixado bastante, na segunda, eu nem fiquei muito surpresa quando vi meu hemograma mostrando imunidade baixa.  Daí só me restava continuar esperando, de novo, minha imunidade aumentar pra poder fazer a 3ª sessão, as injeções de granulokine ficaram só pra depois dela. Foram 2 exames de sangue até agora, um por semana e nada. No finzinho dessa semana faço mais um exame e acho que já estará bom.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Não deu


Depois de passar uma semana bem tranqüila, fui leve e solta fazer meu querido hemograma só pra certificar que poderia fazer minha segunda sessão no dia marcado. Até o médico achou que não teria problema, pois eu não apresentava nenhum sinal de que minha imunidade estava baixa. Mas as aparências enganam. Meu exame indicou que minha resistência estava baixa e não pude fazer a 2ª sessão em dia. Foi uma surpresa pra mim, confesso que fiquei até um pouco assustada e logo pensei: se na 1ª sessão minha imunidade já baixou desse jeito, imagine nas próximas. Também não teve como não pensar no tempo que meu tratamento ia durar, pois já não seriam mais 8 meses. Fiquei muito preocupada, mas não havia nada que eu podia fazer pra ela voltar ao normal, só me restava esperar e fazer o exame de semana em semana pra ver o resultado. Essa foi a decisão do meu médico pra ver como meu organismo ia reagir e quanto tempo ele levaria pra voltar ao normal, mas que a partir da segunda sessão, não precisaria esperar a imunidade voltar ao normal sozinha, ele daria uma injeção de um remédio chamado Granulokine pra imunidade voltar.  Só me resta esperar.

A 1ª Sessão de QT



Eu estava tranqüila à espera do começo do tratamento, só a demora que me deixava um pouco aflita, afinal foi mais de um mês pra conseguir fazer todos os exames, inclusive o tal do PET-Scan, que é um exame bem detalhado que só fazia em São Paulo, e a biópsia da medula óssea, que é necessária para saber se o linfoma não se infiltrou na medula e, só para ajudar, é beem dolorida. Enquanto isso, levava minha vida normal esperando começar, trabalhava, namorava e me divertia. Não sentia nada, nem parecia que tinha uma doença tão grave. Até chegar a véspera da 1ª sessão. Nossa, fiquei muito nervosa, com medo de como meu corpo ia reagir, se ia passar muito mal. Todo mundo que me conhece sabe o quanto eu gosto de uma cervejinha e foi ai que eu me refugiei. Nem adianta me crucificar ou dizer que eu não devia ter feito isso, disso eu sei muito bem. Alias, por favor, não façam isso em casa. Mas eu estava com muito medo e não queria demonstrar isso pra ninguém, daí comecei a tomar pra esquecer. Fiquei muito mal no domingo, véspera da sessão, e graças a Deus que tenho meu noivo lindo que cuidou de mim e me colocou pra dormir cedo.
Acordei tão nervosa quanto fui dormir, achava que ia explodir de chorar a qualquer momento. Era dia 09/08/2010, exatamente dois meses depois de encontrar o lindo caroço no meu pescoço. Cheguei no CPO (Centro Paulista de Oncologia) de Presidente Prudente e fui logo começar a sessão. Quando estava esperando passar mal no primeiro sorinho que a enfermeira trouxe, daí ela me disse que só era soro, isso mesmo, aquele pra hidratar. Até aliviou. E depois veio outro sorinho que ainda não era a quimio, eram remédios para náuseas e anti-alérgicos. Só no terceiro soro, na cor vermelha, que ela informou que era a quimio e informou também que era aquele medicamento que fazia meus cabelos ruivos e chapados caírem. E depois do vermelho, vieram outros três ou quatro soros que também eram quimio e a cada minuto esperava começar a passar mal. E nada. Nada mesmo. Nenhum efeito colateral durante a sessão. Depois dos medicamentos, só mais um remédio para náuseas. E acabou. Nossa nem acreditei, quando ela falou que tinha acabado. Foram umas quatro horas, mas nem vi a hora passar. 
Meu medico achou melhor eu internar, mais pela parte psicológica que pela parte física. Eu e minha mãe achamos melhor também, estávamos com medo de chegar em casa e tudo piorar e ter que voltar correndo pra Prudente (pra quem não sabe, moro numa cidade pequena no interior de São Paulo, Martinópolis, e tenho que recorrer a cidade vizinha para fazer o tratamento). Mas ocorreu tudo bem no hospital, só inchei um pouco, rosto e mãos, mas só. Fiquei uns 2 dias e saí. No fim, vi que não foi nada demais, não foi um bicho de sete cabeças como eu achava que era.
Depois de alguns dias, surgiram dois probleminhas que me chatearam muito. Um foi uma inflamação no dente que me deu muuuuita dor, noites mal dormidas e nada de comer por uns dois dias, só descia liquido. A outra foi mais dores, mas dessa vez foram do tipo cólica, pois meu querido intestino decidiu ficar preguiçoso, ou melhor, parado mesmo. Mas tudo devidamente medicado e sarado. Daí, só faltou colocar um cateter, o porth a cath, um aparelhinho que coloca na altura do peito que recebe os medicamentos e assim preservam as veias, pois depois de algumas sessões, elas acabam ficando fraquinhas e difíceis de punsionar. Optei por colocar antes de começar o tratamento, mas o convenio demorou pra autorizar e acabei colocando só depois da 1ª sessão. E lá vai eu mais uma vez internar pra cirurgia pra colocar o cateter. Só foi meio desagradável a sensação de voltar de uma anestesia geral, mas do resto, tudo certo.

O tratamento


Começou assim a correria por um médico especialista pra começar o mais rápido possível pelo tratamento. A idéia de ter um câncer crescendo dentro de você a cada dia, a cada minuto é muito desesperadora. Por mim já teria começado o tratamento no dia seguinte, mas um tratamento que joga pra dentro do seu corpo uma medicação tão forte, como a quimioterapia, requer alguns exames, tanto pra saber se seu corpo pode receber essa medicação, quanto pra poder comparar com outros exames durante o tratamento. Bom, esqueci de explicar pra vocês como é o tratamento de um linfoma, mas não é muito difícil de saber, quando se fala em câncer todo mundo já sabe o que vem pela frente, basicamente quimioterapia e/ou radioterapia; a única diferença de um outro tipo de câncer é que não faz cirurgia.
Bom, no meu caso, pelo menos por enquanto, não vou precisar fazer radioterapia, pelo simples motivo que só faz a radio quando o tumor é em uma região pequena e o meu tumor está em várias regiões: no pescoço, no tórax e na barriga (esse da barriga depois de uns exames não apareceu mais, graças a Deus). Então só me restou a quimio. Serão 8 ciclos, cada ciclo são 2 sessões de 15 em 15 dias, ou seja, serão 16 sessões em +/- 8 meses, se tudo ocorrer dentro do prazo. Para poder fazer as sessões nos dias marcados, o exame de sangue tem que indicar uma imunidade boa; caso a imunidade estiver baixa, a sessão deverá ser adiada, já que partindo do principio que a quimio abaixa a imunidade, se ela já estiver baixa, não se pode arriscar da imunidade ficar tão baixa e assim facilitar de pegar uma infecção.
A quimioterapia (QT) é basicamente receber medicação na veia, só muda os medicamentos de um tipo de quimio para outra. A minha será uma tal de ABVD. O que significa isso só Deus sabe, rs, só sei que é uma das mais fracas, mas não deixa de dar as famosas reações das quimioterapias como náuseas, vômitos, queda de cabelo, alteração do paladar, inchaço nas mãos e pés e “otras cositas más”.
Depois de tudo explicado por um bom médico, exames prontos, só restava começar logo o tratamento e acabar logo com esse intruso.


O linfoma



Todo mundo me pergunta: Mas como isso aconteceu? Como você descobriu? Não foi muito difícil. Meu pescoço simplesmente dobrou de tamanho de um dia pro outro, tinha um pequeno caroço que inchou da noite pro dia. E depois do ultra-som pronto, o pré diagnostico de um clinico geral: linfoma. O médico foi curto e grosso, falou na lata, mas até então eu nem sabia o que significava essa palavra, apesar de desconfiar. Quando perguntei se linfoma era câncer, ele me olhou com uma cara de enterro e disse que sim. Acho que foi o momento de mais pânico desde que descobri: me vi morrendo, vi todas pessoas que me amam chorando ao redor de um caixão, parecia uma sentença de morte. Principalmente porque ele me mandou voltar no mesmo dia em um especialista. Essa urgência na orientação dele parecia que eu tinha poucos dias de vida, talvez horas. Parece ate exagero, mas só quem ouvi um diagnóstico desses sabe do que eu estou falando. Saímos, eu e minha mãe, do consultório chorando desesperadamente.
Depois de nos acalmar do susto, fomos atrás de um especialista, marcamos a biopsia, e logo no dia seguinte já fui internar para a mini cirurgia pra fazer a biopsia. Fui uma anestesia local, nada demais. O pior foi esperar três semanas para sair o resultado. Foi um período de angustia, de suposições sobre o que seria o tal caroço no pescoço, tentava de todas as maneiras acreditar que não era câncer. Aliás, eu tinha certeza que não era, tinha uma confiança muito grande de que não era, mesmo não tendo idéia do que seria se não fosse linfoma. Nessas horas a internet não ajuda muito, a cada pesquisa sobre o assunto, eu ficava mais nervosa, pois via que eu tinha muitos sintomas da doença, ate que decidi que não ia mais ler nada, que ia esperar o resultado rezando e confiando.
Levei um baque quando minha mãe me chamou no quarto pra contar que eu tinha mesmo um linfoma. Foi no dia 02/07/2010 que descobri que tinha Linfoma de Hodgkin. Só pra constar, linfoma é um câncer no sistema linfático que é responsável pelas defesas no organismo e o tipo do meu linfoma é de Hodgkin – esclerose nodular, um com grandes chances de cura, quase 95%. Só por isso já tenho muito a agradecer a Deus.
O Brasil tinha sido desclassificado da Copa pela Holanda no futebol e era aniversario do meu irmão, talvez esse último tenha me ajudado a ficar firme, afinal eu não ia estragar o aniversario de 10 anos do meu irmão mesmo tendo motivos pra isso, eu queria ver ele e toda família bem. Na verdade não foi só pelos meus familiares que tentei ficar bem, mas simplesmente porque não fiquei como imaginava que ia ficar. Sempre tive medo de ter essa doença, até parecia que já sabia, e me imaginava revoltada com a vida e com Deus, mas isso não aconteceu. Com a graça de Deus, fui muito forte e fiquei muito bem, dentro do possível é claro. Nessas horas a gente acha forças que nem mesmo sabe que tem. Só teve duas vezes que fiquei meio deprimida: quando caiu a ficha que meu cabelo ia cair e quando eu descobri que o tratamento poderia me deixar estéril. Mas nessas duas vezes eu vi as conseqüências dessa tristeza: todos à minha volta ficaram preocupados e tristes, vi tudo ao meu redor desmoronar junto comigo e decidi que eu não ia ficar mais assim. Só restava seguir firme e me tratar com todas minhas forças.
E ai começou minha luta.

Poderia!


Quem disse que a vida seria fácil? Pode até ser, mas não teria mesma graça, o mesmo valor nem o mesmo sabor. Quem escolhe de quem a vida será fácil e de quem não será? Não sei e nem quero saber, pra não ter em quem colocar a culpa, pois afinal, não existe culpado. Acontece, simples assim.
E na minha vida aconteceu.
Mas quem sou eu e que vida é essa? Bom, vou tentar resumir. Meu nome é Nayara, tenho 26 anos e sou uma garota apaixonada e cheia de planos. Apaixonada pela vida, pela minha família e pelo meu noivo (e só, dizer que sou apaixonada pelo meu trabalho já seria demais, que meu gerente não leia isso). Na vida tento curtir cada momento, aproveitando o máximo de cada um. Na família amo cada um no seu jeito, nos seus defeitos e qualidades. E o noivo, o Nan (Renan para as meninas, rs),bom, nem sei se eu preciso falar, sou completamente apaixonada por ele, de corpo e alma.
E os planos? Bom, eu li no blog da lari uma frase e achei bem interessante: “quer fazer Deus rir? ? conte seus planos pra Ele”. E eu devo ter feito Deus gargalhar de rolar no chão porque esse ano e o próximo já estavam traçados praticamente mês a mês. Íamos construir uma casa, organizar uma festa de casamento e em maio seria o grande dia. Passava horas e horas imaginando a planta da casa, o vestido de noiva, o penteado do cabelo, já tinha feito a lista de casamento umas três vezes, orçamento da festa em vários lugares, enfim, todas preocupações que uma noiva tem. 
Eu estava no auge da minha felicidade, já estava tudo planejado, milimetricamente tudo calculado, nada poderia dar errado. Ou poderia.